quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Morte de Sócrates


Quando Sócrates (470-399 a.C.) disse durante a sua morte "Eu sou a minha alma", ele já demonstrava saber que a alma é imortal.
Pelas ruas de Atenas, envolto num áspero manto, com pés descalços e cabeça descoberta, vagava Sócrates distribuindo sabedoria. Era um homem fisicamente feio, mas manso e dócil como um santo. Tinha a profissão de escultor que pouquíssimas vezes exerceu, pois preferia esculpir sábias palavras. Pouco se preocupava com as dificuldades financeiras de sua família. Cuidava dos negócios alheios e esquecia os seus.
Nas infrequentes visitas que fazia à casa de sua mulher Xantipa era recebido com tempestades de palavras ásperas que sabiamente ignorava. Sua maior ambição era ser benfeitor da humanidade. Sua bondade era tão grande quanto sua sabedoria. Desejava ver a justiça social ser exercida em todo o mundo. Em Atenas era odiado e amado. Os políticos detestavam encontrá-lo para não terem de responder perguntas embaraçosas. Para sua esposa Xantipa era um preguiçoso, mas para os jovens atenienses era um deus. Estes adoravam ir ao seu encontro para escutá-lo cheios de admiração.
Para transmitir saber ele costumava instigar o pensamento de seus interlocutores sem jamais responder diretamente suas perguntas. Sócrates sentia especial prazer em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra e também aqueles que diziam ser sábios quando na verdade não passavam de tolos ignorantes. Costumava chamar a si mesmo de "moscardo" (moscão). Tinha a habilidade de estimular as pessoas a pensar. Outro apelido que costumava dar a si mesmo era de "parteira intelectual", porque auxiliava as pessoas a dar nascimento às suas próprias ideias, incentivando o uso do próprio pensamento.
Com muita insistência afirmava que nada sabia. Dizia: "Sou o homem mais sábio de Atenas porque sei que nada sei". Toda a essência do ensinamento de Sócrates pode ser resumido nas seguintes palavras: "Conhece-te a ti mesmo". Ele tentava sempre aprender com todos e neste processo, ensinava a seus mestres.
Costumava dizer que o saber é uma virtude; que os homens cometem crimes porque são ignorantes, não conhecem outra coisa melhor. Diferentemente do filósofo Lao-tze, acreditava que o melhor remédio para o crime é a educação. O objetivo maior de sua vida era ensinar os outros. Infelizmente, dizia ele, nem todos queriam ser aducados.
Um dia, ao chegar ao mercado para seu costumeiro debate filosófico, deparou-se com um aviso colocado na tribuna pública que dizia: "Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade. A pena de seu crime é a morte". Foi preso e julgado pelos políticos cuja hipocrisia costumava denunciar nas praças públicas. Ao ser interpelado pelos juízes, recusou-se a defender-se dizendo que sua obrigação era sempre falar a verdade. Os juízes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual devia ser sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse:
- "Pelo que fiz por voz e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida à expensas públicas".
Foi condenado à morte. Durante trinta dias foi mantido numa cela funerária. Mesmo diante da morte permaneceu calmo, discutindo tranquilamente o significado da vida e o mistério da morte.
Críton, o mais ardente dos seus discípulos, entrou furtivamente na cela e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates!
- Fugir por quê? Perguntou-lhe.
- Ora, não sabes que amanhã te vão matar?
- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
- Sim, amanhã terás de beber a mortal taça de cicuta - Insistiu Críton.
- Vamos, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Críton - respondeu-lhe
- Que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou:
- Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou:
 - Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!...
E assim o mais sábio homem de todos os tempos foi obrigado acabar a vida como um criminoso. Ao beber o veneno, quando já sentia que seus membros esfriavam, despediu-se de todos com as mesmas palavras com que se dirigira aos juízes que o haviam julgado:
- "E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor desses caminhos, só Deus sabe"...
Quando os homens julgam erradamente seu próximo, a história julgará os julgadores.


Fonte: webartigos.com/artigos/a-morte-de-socrates