A
transição para a mentalidade cientifica moderna não foi um processo súbito e
sem resistência. Forças ligadas ao passado medieval lutaram duramente contra as
transformações que se desenvolviam, punindo, por exemplo, muitos pensadores da
época e organizando listas de livros proibidos (o index).
Foi
nesse contexto que vários pioneiros da ciência moderna sofreram perseguição da Inquisição, tribunal instituído
pela Igreja Católica com o fim de descobrir e julgar os responsáveis pela
propagação de heresias, isto é, concepções contrárias aos dogmas dos católicos.
Giordano Bruno |
A
Inquisição foi criada em 1232 pelo papa Gregório IX. Sua ação estendeu-se por
vários reinos cristãos, como Itália, França, Alemanha, Portugal e,
especialmente, Espanha. Com o decorrer do tempo, reduziu suas atividades, que
somente foram reativadas em meados do século XVI, diante do avanço do
protestantismo.
Exemplo
marcante dessas perseguições é o julgamento do pensador italiano Giordano Bruno (1548-1600),
condenado à morte na fogueira por contestar o pensamento católico, que se
apoiava na ideia de que o planeta Terra era o centro imóvel do universo. Essa
noção geocêntrica estava fundamentada na astronomia do grego Ptolomeu, na
física de Aristóteles e em certas interpretações da Bíblia.
Contra
essa concepção, Giordano Bruno defendeu a teoria heliocêntrica, formulada por Nicolau Copérnico, e afirmou que
o universo é um todo infinito, cujo centro não está em
parte alguma. As perseguições que sofreu por isso são denunciadas nestas
palavras:
Nicolau Copérnico |
“Por ser eu delineador do campo da natureza,
por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do
espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os
observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram”
(Bruno, Sobre o infinito, o universo e os mundos, p.3).
A
formulação de Copérnico de que é o Sol, e não a Terra, o centro do universo
atingia a concepção medieval cristã de que o ser humano é o ser supremo da
criação e que, por isso, seu habitat, a Terra, deveria ter o privilégio de ser
o centro em relação aos outros astros. Compreende-se assim o mal-estar causado
pela tese copernicana.
Outro
aspecto que incomodou as autoridades católicas foi que a natureza e o universo
passaram a ser concebidos a partir de um novo paradigma, baseado tanto na
observação direta como na representação matemática. Essa mudança de atitude e
seus resultados foram entendidos como uma ameaça aos dogmas da Igreja, e
poderiam afastar as pessoas da fé cristã.
Fonte:
Fundamentos de Filosofia
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