sexta-feira, 20 de junho de 2014

Inquisição



A transição para a mentalidade cientifica moderna não foi um processo súbito e sem resistência. Forças ligadas ao passado medieval lutaram duramente contra as transformações que se desenvolviam, punindo, por exemplo, muitos pensadores da época e organizando listas de livros proibidos (o index).
Foi nesse contexto que vários pioneiros da ciência moderna sofreram perseguição da Inquisição, tribunal instituído pela Igreja Católica com o fim de descobrir e julgar os responsáveis pela propagação de heresias, isto é, concepções contrárias aos dogmas dos católicos.
Giordano Bruno
A Inquisição foi criada em 1232 pelo papa Gregório IX. Sua ação estendeu-se por vários reinos cristãos, como Itália, França, Alemanha, Portugal e, especialmente, Espanha. Com o decorrer do tempo, reduziu suas atividades, que somente foram reativadas em meados do século XVI, diante do avanço do protestantismo.
Exemplo marcante dessas perseguições é o julgamento do pensador italiano Giordano Bruno (1548-1600), condenado à morte na fogueira por contestar o pensamento católico, que se apoiava na ideia de que o planeta Terra era o centro imóvel do universo. Essa noção geocêntrica estava fundamentada na astronomia do grego Ptolomeu, na física de Aristóteles e em certas interpretações da Bíblia. 
Contra essa concepção, Giordano Bruno defendeu a teoria heliocêntrica, formulada por Nicolau Copérnico, e afirmou que o universo é um todo infinito, cujo centro não está em parte alguma. As perseguições que sofreu por isso são denunciadas nestas palavras:
Nicolau Copérnico
Por ser eu delineador do campo da natureza, por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram” (Bruno, Sobre o infinito, o universo e os mundos, p.3).
A formulação de Copérnico de que é o Sol, e não a Terra, o centro do universo atingia a concepção medieval cristã de que o ser humano é o ser supremo da criação e que, por isso, seu habitat, a Terra, deveria ter o privilégio de ser o centro em relação aos outros astros. Compreende-se assim o mal-estar causado pela tese copernicana.
Outro aspecto que incomodou as autoridades católicas foi que a natureza e o universo passaram a ser concebidos a partir de um novo paradigma, baseado tanto na observação direta como na representação matemática. Essa mudança de atitude e seus resultados foram entendidos como uma ameaça aos dogmas da Igreja, e poderiam afastar as pessoas da fé cristã.


Fonte: Fundamentos de Filosofia 

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