quarta-feira, 26 de março de 2014

O Nascimento da Filosofia


A filosofia nasceu na Grécia entre os séculos VII e VI a.C. , estabelecendo a passagem do pensamento mítico para o pensamento racional. Gradativamente essa transição ocorreu durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato.
Com isso, é necessário saber que houve alguns fatores que auxiliaram o nascimento do pensamento filosófico ou racional.

·       A escrita
Quando não havia a escrita o que predominava era a tradição oral. Tradicionalmente as historias, lendas, contos e mitos eram transmitida de geração para geração oralmente. E mesmo depois do surgimento da escrita esta era reservada apenas para as autoridades religiosas do tempo e para a nobreza.  
A escrita era identificada como um sinal divino. Escrever era algo mágico, sobrenatural. Só com o passar do tempo e com alguns fatos históricos, é que a escrita se desvinculou do sentido religioso, passando a ser utilizada num processo democrático e de caráter político.
Contudo, a escrita ainda era reservado para alguns, uma vez que a maioria da população não sabia ler e nem escrever. O que é importante ressaltar é seu desligamento do sagrado e aliando-se a estrutura secular.

A deusa Atena
·       A moeda
A economia pré-monetária era desenvolvido por meio de troca de objetos, mercadorias, animais, serviços ou escravos. Os objetos eram carregados de simbologia afetiva e sagrada.
         Por volta do século VIII e VI a.C. o comércio marítimo mostrava-se em pleno desenvolvimento, decorrente das expansão do mundo grego. E com isso, a mudança econômica foi sendo estabelecida com a nova pratica comercial em ascensão.
Coruja simbolo da sabedoria
A moeda só apareceu por volta do século VII a.C. na Grécia, possibilitando uma praticidade nos negócios e alavancando a transação comercial. A cunhagem da moeda era no metal, e trazia a esfinge da deusa Atena e da coruja que simbolizavam respectivamente a sabedoria.




·       A pólis
A pólis foi uma nova forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos VII e VI a.C. provocando alterações nas relações humanas.
A ágora (praça publica) era o espaço que se discutia variados assuntos de interesse comum. Como tudo se centrava na ágora, os debates possibilitaram o surgimento da politica que permitiu aos indivíduos tecer seu próprio destino, não tendo mais que recorrer a mitologia propriamente dita. Segundo o historiador francês Jean-Pierre Vernant, a razão grega é filha da pólis, e o nascimento da filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual.

Ágora
Sobre tudo, estes e outros fatores como a democracia ajudaram no surgimento da filosofia. Em relação a democracia é certo dizer que Atanes foi o modelo clássico dessa pratica. No entanto, quando falamos em democracia ateniense, é bom lembrar que a maior parte da população se achava excluída do processo politico, tais como os escravos e os estrangeiros, mesmo que estes fossem prósperos comerciantes.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Aristóteles

Aristóteles
Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles (384-322 a.C.) foi, ao lado de Platão, um dos mais expressivos filósofos gregos da Antiguidade. Em Atenas, frequentou a Academia de Platão, onde permaneceu vinte anos.
Após a morte de Platão, em 347 a.C. viajou por diversos lugares e foi preceptor do jovem de 13 anos, que se tornaria Alexandre, o Grande da Macedônia. Há informações que Aristóteles teria escrito mais de uma centena de obras, sobre os mais variados temas, das quais restam apenas 47, embora nem todas de autenticidade comprovada.
De volta a Atenas, fundou o Liceu, em 340 a.C., assim chamado por ser vizinho do templo de Apolo Licio. Seus discípulos do Liceu ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam) devido ao hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam a escola.
Segundo Aristóteles, a finalidade básica das ciências seria desvendar a constituição essencial dos seres, procurando defini-la em termos reais. Assim, para o filósofo, a ciência deveria partir da realidade sensorial – empírica – para buscar nela as estruturas essenciais de cada ser. Com isso, recusa a teoria das ideias de Platão e sua interpretação radical sobre a oposição entre mundo sensível e mundo inteligível.

A Metafísica

No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “ser enquanto ser”. Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são. Nesse sentido, as características das coisas apenas nos mostram como as coisas estão, mas não definem ou determinam o que elas são. É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que” elas são e aquilo que determina “como” são.
Sobre o conceito metafísica podemos dizer que é um termo grego e relacionaremos da seguinte forma: meta=além e física=matéria, ou seja, além da matéria.
Foi o que supôs Aristóteles. A substância é “aquilo que é em si mesmo”, o suporte dos atributos. Esses atributos podem ser essências ou acidentais.
·     A essência é o atributo que convém à substância de tal modo que, se lhe faltasse, a substância não seria o que é (interior).
·       O acidente é o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o que é (exterior).
Seguindo essa linha de raciocínio, Aristóteles concebeu a noção de que todas as coisas estariam constituídas de dois princípios inseparáveis.
·       Matéria é o princípio indeterminado dos seres, mas que é determinável pela forma.
·       Forma é o princípio determinado em si próprio, mas que é determinante em relação à matéria.
A forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie pela qual todos são o que são, enquanto a matéria é pura passividade e contém a forma em potência.
Agora é necessário recorrer aos conceitos de potência e ato, que explicam como dois seres diferentes podem entrar em relação, atuando um sobre o outro. Então:
·       O ato é a manifestação atual do ser aquilo que ele já é (por exemplo: a semente é, em ato, uma semente);
·       A potência são as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não é mas que pode vir a ser (por exemplo: a semente é, em potência a árvore).
Há, portanto, princípios intrínseco e extrínseco que levam os seres ao movimento, à passagem da potência ao ato. Esses princípios são o que o filósofo denominou causas.
Aristóteles distinguiu quatro tipos de causas fundamentais:
·    Material – refere-se a matéria de que é feita uma coisa. Exemplo: o mármore utilizado na confecção de uma estátua;
·       Formal – refere-se a forma, a natureza especifica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”. Exemplo: uma estátua (em forma) de homem e não de cavalo;
·    Eficiente – refere-se ao agente, aquele que produz diretamente a coisa, transformando a matéria tendo em vista uma forma. Exemplo: o escultor que fez a estátua (em forma) de homem;
·      Final – refere-se ao objetivo, à intenção, a finalidade ou à razão de ser de uma coisa. Exemplo: a intenção de exaltar a figura do soldado ateniense.

Deus: Primeiro Motor Imóvel

Aristóteles também refletiu sobre a questão da origem do mundo. Para ele, o mundo é eterno, isto é, nunca teve um principio e nunca terá um fim, tendo em vista que as próprias noções de principio e de fim contrariam sua concepção de movimento.
Se o movimento é a passagem da potência ao ato (em que varia a forma, mas se mantem a matéria), isso implica que há sempre um algo antes (do que se parte) e um algo depois (ao qual se chega). Desse modo, Aristóteles conclui que o mundo é um movimento eterno, sem começo nem fim.

Esse Primeiro Motor Imóvel (por não ser movido por nenhum outro) é também um puro ato (sem nenhuma potência). Segundo Aristóteles, Deus é Ato Puro, Ser Necessário, Causa Primeira de todo existente. No entanto, como Deus pode mover, sendo imóvel? Porque Deus não é o primeiro motor como causa eficiente, mas sim como causa final: Deus move por atração, ele tudo atrai, como “perfeição” que é. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Platão e o Mundo das Ideias

Platão
Nascido em Atenas, Platão (427-347 a.C.) era de uma família aristocrata. Seu nome verdadeiro era Aristocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de ombros largos”.
Platão foi discípulo de Sócrates, a quem considerava o mais sábio e o mais justo dos homens. Depois da morte de seu mestre, empreendeu inúmeras viagens, período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas.
Ao retornar a Atenas, fundou a escola denominada Academia. Essa escola foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental. Seus diálogos – abrangem as várias áreas da filosofia nascente, e por isso é o primeiro filósofo sistemático.
Como grande parte dos pensadores de sua época, Platão também enfrentou o impasse criado pelos pensamentos de Parmênides e Heráclito, isto é, sobre o problema da permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade.
Até hoje vigoram muitas de suas ideias sobre a relação corpo-alma, a política aristocrática e a crença na superioridade do espírito em detrimento dos sentidos.
Para melhor sistematizar a teoria do conhecimento de Platão, utilizaremos uma alegoria para expor sua doutrina. A mais conhecida é o mito da caverna.
De acordo com essa alegoria, homens prisioneiros desde pequenos encontram-se em uma caverna escura e estão amarrados de tal maneira que permanecem sempre de costas para a abertura da caverna. Nunca saíram e nunca viram o que há fora dela. No entanto, devido à luz de um fogo que entra por essa abertura, podem contemplar na parede do fundo a projeção das sombras dos seres que passam lá fora, em frente do fogo. Acostumados a ver somente essas projeções, isto é, as sombras do que não podem observar diretamente, assumem que o que veem é a verdadeira realidade.
A alegoria da caverna representa as etapas da educação de um filósofo, ao sair do mundo das sombras (das aparências) para alcançar o conhecimento verdadeiro.
Platão distingue o mundo sensível, o dos fenômenos, do mundo inteligível, o das ideias.
·       Mundo sensível: corresponde à matéria e compõe-se das coisas como as percebemos na vida cotidiana (sensações), as quais surgem e desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo sensível são temporárias, mutáveis e corruptíveis (o mundo de Heráclito).

·       Mundo inteligível: corresponde as ideias, que são sempre as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem experimentar a dimensão do eterno, do imutável, do perfeito (o mundo da Parmênides).

O mito da caverna

sábado, 15 de março de 2014

A filosofia pré-socrática

Costuma-se dividir a filosofia grega em três grandes momentos, tendo como referência central a atuação de Sócrates.
- Pré-socrático
- Socrático
- Pós-socrático
O período pré-socrático estende-se pelos séculos VII e VI a.C., quando os filósofos vindo das colônias gregas como a Jônia (atual Turquia) e Magna Grécia (sul da Itália e Sicília) iniciaram o processo de rompimento entre a filosofia e pensamento mítico.
Enquanto nos relatos míticos a natureza era explicada a partir da geração dos deuses, os filósofos pré-socráticos investigavam essa origem de maneira racional. Para eles, o princípio (a arkhé, em grego) não se encontra na ordem do tempo mítico, mas trata-se de um princípio teórico.  


Heráclito: tudo flui
        
          Heráclito (544-484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia. Para ele, todas as coisas mudam (devir) sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também as águas mudaram.


Parmênides: o ser é imóvel

         Parmênides (c.540-c.470 a.C.) viveu em Eleia. Criticou a filosofia heraclitiana: ao “tudo flui” de Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser. Para ele, é absurdo e impensável afirmar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. A partir do princípio estabelecido, conclui que o ser é único, imutável, infinito e imóvel. 

terça-feira, 4 de março de 2014

Eu Sou Ateu?



Em uma de minhas aulas de filosofia no primeiro ano do ensino médio, seguindo o conteúdo programático do currículo escolar, comecei a explicar sobre a consciência mítica (mito) que os gregos tinham sobre a existência do mundo antes da consciência filosófica (razão). Quer dizer, os gregos entendia a origem das coisas a partir da mitologia.
 Como a ciência e a filosofia ainda engatinhavam para conceber uma justificativa lógica e racional, a mitologia prestava um papel importante e sagrado para esta civilização. Perguntas como “de onde eu vim?”, “como surgiu o mundo?” e “para onde eu vou?”, eram muito comuns e de certa forma causavam uma curiosidade e uma angustia existencial. Com isso, o mito oferecia uma resposta temporal para estas perguntas. Deuses como Zeus (pai dos deuses e homens); Afrodite (deusa do amor); Poseidon (deus dos mares); Atena (deusa da sabedoria) e outros eram adorados e reverenciados nas civilizações antigas. Portanto, a mitologia era a forma belíssima de interpretar o mundo. Não um delírio como muitos afirmam.
 Pois bem, no processo de compreensão, alguns alunos que participavam da aula se recusaram a entender e aceitar que antigas civilizações concebessem sua fé nos deuses mitológicos, já que o Deus “cristão” é o Criador de todas as coisas. Segundo o argumento de certos alunos a mitologia distorce a realidade, uma vez que esta apresenta uma versão sem fundamento e fantasiosa para explicar a existência das coisas, e que isso caracteriza uma apologia ao ceticismo e ao ateísmo.
Dédalo e Ícaro: Mitologia grega
Não demorou muito e o martelo da Inquisição despertou. Na tentativa de explicar e elucidar a questão, disse que estas civilizações eram bem anteriores ao cristianismo ou a outras religiões. E que o mito era uma realidade do cotidiano daquela cultura. Mais isso não foi o suficiente, e sem demora fui rotulado de ateu.
Nada contra o ateísmo, somos livres e ser ateu não me parece ser um câncer, já que há muitos que dizem crer em Deus mais seus testemunhos são vazios e cheios de hipocrisia. No entanto, a questão não era causar uma polêmica em torno da existência de Deus. Sou cristão, mais isso não priva os registros históricos. Nem sempre o mundo foi cristão, houve outras crenças importantes, como há ate hoje. O fato é que ocorre uma intolerância religiosa e isso não soa bem.
Quantas guerras foram forjadas em nome e Deus? Não creio que Deus sendo a fonte do Bem Supremo não esteja nada contente com esta realidade de ira e de preconceito. Não estamos diante de uma organização fundamentalista como a Al-Qaeda que visa exterminar a influência não-islâmica e muito menos numa mentalidade neonazista. Acredito numa discussão saudável e equilibrada.
O meu papel em quanto professor é elucidar e oferecer conhecimento sem negligenciar fatos históricos existentes na humanidade. Não promovo ideologias religiosas, mais provoco questionamentos, interpelações e indagações que podem ajudar no amadurecimento do conhecimento do aluno.
A mitologia é um acontecimento e por muito tempo orquestrou a vida de muitas civilizações. Da mesma forma como fizeram os Maias, os Incas e os Astecas que influenciaram vários povos.
Contudo, a filosofia é uma matéria que nos levar a buscar a verdade, e para isso é necessário estudar comportamentos humanos e pensamentos dos filósofos. Não que o filósofo seja o detentor da verdade, mas ele procura questionar incansavelmente sem cessar em detrimento desta busca.

Independentemente do que cremos isso não nos dar o direito de condenar os fatos históricos. E muito menos criar aversão ou preconceito. O que é coerente saber é que no processo do amadurecimento da aprendizagem não é permitido barreiras e muito menos intolerância.