terça-feira, 4 de março de 2014

Eu Sou Ateu?



Em uma de minhas aulas de filosofia no primeiro ano do ensino médio, seguindo o conteúdo programático do currículo escolar, comecei a explicar sobre a consciência mítica (mito) que os gregos tinham sobre a existência do mundo antes da consciência filosófica (razão). Quer dizer, os gregos entendia a origem das coisas a partir da mitologia.
 Como a ciência e a filosofia ainda engatinhavam para conceber uma justificativa lógica e racional, a mitologia prestava um papel importante e sagrado para esta civilização. Perguntas como “de onde eu vim?”, “como surgiu o mundo?” e “para onde eu vou?”, eram muito comuns e de certa forma causavam uma curiosidade e uma angustia existencial. Com isso, o mito oferecia uma resposta temporal para estas perguntas. Deuses como Zeus (pai dos deuses e homens); Afrodite (deusa do amor); Poseidon (deus dos mares); Atena (deusa da sabedoria) e outros eram adorados e reverenciados nas civilizações antigas. Portanto, a mitologia era a forma belíssima de interpretar o mundo. Não um delírio como muitos afirmam.
 Pois bem, no processo de compreensão, alguns alunos que participavam da aula se recusaram a entender e aceitar que antigas civilizações concebessem sua fé nos deuses mitológicos, já que o Deus “cristão” é o Criador de todas as coisas. Segundo o argumento de certos alunos a mitologia distorce a realidade, uma vez que esta apresenta uma versão sem fundamento e fantasiosa para explicar a existência das coisas, e que isso caracteriza uma apologia ao ceticismo e ao ateísmo.
Dédalo e Ícaro: Mitologia grega
Não demorou muito e o martelo da Inquisição despertou. Na tentativa de explicar e elucidar a questão, disse que estas civilizações eram bem anteriores ao cristianismo ou a outras religiões. E que o mito era uma realidade do cotidiano daquela cultura. Mais isso não foi o suficiente, e sem demora fui rotulado de ateu.
Nada contra o ateísmo, somos livres e ser ateu não me parece ser um câncer, já que há muitos que dizem crer em Deus mais seus testemunhos são vazios e cheios de hipocrisia. No entanto, a questão não era causar uma polêmica em torno da existência de Deus. Sou cristão, mais isso não priva os registros históricos. Nem sempre o mundo foi cristão, houve outras crenças importantes, como há ate hoje. O fato é que ocorre uma intolerância religiosa e isso não soa bem.
Quantas guerras foram forjadas em nome e Deus? Não creio que Deus sendo a fonte do Bem Supremo não esteja nada contente com esta realidade de ira e de preconceito. Não estamos diante de uma organização fundamentalista como a Al-Qaeda que visa exterminar a influência não-islâmica e muito menos numa mentalidade neonazista. Acredito numa discussão saudável e equilibrada.
O meu papel em quanto professor é elucidar e oferecer conhecimento sem negligenciar fatos históricos existentes na humanidade. Não promovo ideologias religiosas, mais provoco questionamentos, interpelações e indagações que podem ajudar no amadurecimento do conhecimento do aluno.
A mitologia é um acontecimento e por muito tempo orquestrou a vida de muitas civilizações. Da mesma forma como fizeram os Maias, os Incas e os Astecas que influenciaram vários povos.
Contudo, a filosofia é uma matéria que nos levar a buscar a verdade, e para isso é necessário estudar comportamentos humanos e pensamentos dos filósofos. Não que o filósofo seja o detentor da verdade, mas ele procura questionar incansavelmente sem cessar em detrimento desta busca.

Independentemente do que cremos isso não nos dar o direito de condenar os fatos históricos. E muito menos criar aversão ou preconceito. O que é coerente saber é que no processo do amadurecimento da aprendizagem não é permitido barreiras e muito menos intolerância. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário