Em
uma de minhas aulas de filosofia no primeiro ano do ensino médio, seguindo o
conteúdo programático do currículo escolar, comecei a explicar sobre a
consciência mítica (mito) que os gregos tinham sobre a existência do mundo
antes da consciência filosófica (razão). Quer dizer, os gregos entendia a
origem das coisas a partir da mitologia.
Como a ciência e a filosofia ainda engatinhavam para conceber uma
justificativa lógica e racional, a mitologia prestava um papel importante e
sagrado para esta civilização. Perguntas como “de onde eu vim?”, “como
surgiu o mundo?” e “para onde eu vou?”,
eram muito comuns e de certa forma causavam uma curiosidade e uma angustia
existencial. Com isso, o mito oferecia uma resposta temporal para estas
perguntas. Deuses como Zeus (pai dos deuses e homens); Afrodite (deusa do
amor); Poseidon (deus dos mares); Atena (deusa da sabedoria) e outros eram
adorados e reverenciados nas civilizações antigas. Portanto, a mitologia era a
forma belíssima de interpretar o mundo. Não um delírio como muitos afirmam.
Pois bem, no processo de compreensão, alguns
alunos que participavam da aula se recusaram a entender e aceitar que antigas
civilizações concebessem sua fé nos deuses mitológicos, já que o Deus “cristão”
é o Criador de todas as coisas. Segundo o argumento de certos alunos a
mitologia distorce a realidade, uma vez que esta apresenta uma versão sem
fundamento e fantasiosa para explicar a existência das coisas, e que isso caracteriza
uma apologia ao ceticismo e ao ateísmo.
Dédalo e Ícaro: Mitologia grega |
Não
demorou muito e o martelo da Inquisição despertou. Na tentativa de explicar e
elucidar a questão, disse que estas civilizações eram bem anteriores ao
cristianismo ou a outras religiões. E que o mito era uma realidade do cotidiano
daquela cultura. Mais isso não foi o suficiente, e sem demora fui rotulado de
ateu.
Nada
contra o ateísmo, somos livres e ser ateu não me parece ser um câncer, já que há muitos que dizem crer
em Deus mais seus testemunhos são vazios e cheios de hipocrisia. No entanto, a
questão não era causar uma polêmica em torno da existência de Deus. Sou cristão,
mais isso não priva os registros históricos. Nem sempre o mundo foi cristão,
houve outras crenças importantes, como há ate hoje. O fato é que ocorre uma
intolerância religiosa e isso não soa bem.
Quantas
guerras foram forjadas em nome e Deus? Não creio que Deus sendo a fonte do Bem
Supremo não esteja nada contente com esta realidade de ira e de preconceito. Não
estamos diante de uma organização fundamentalista como a Al-Qaeda que visa exterminar a influência não-islâmica e muito
menos numa mentalidade neonazista. Acredito numa discussão saudável e
equilibrada.
O
meu papel em quanto professor é elucidar e oferecer conhecimento sem
negligenciar fatos históricos existentes na humanidade. Não promovo ideologias
religiosas, mais provoco questionamentos, interpelações e indagações que podem
ajudar no amadurecimento do conhecimento do aluno.
A
mitologia é um acontecimento e por muito tempo orquestrou a vida de muitas
civilizações. Da mesma forma como fizeram os Maias, os Incas e os Astecas que
influenciaram vários povos.
Contudo,
a filosofia é uma matéria que nos levar a buscar a verdade, e para isso é
necessário estudar comportamentos humanos e pensamentos dos filósofos. Não que
o filósofo seja o detentor da verdade, mas ele procura questionar
incansavelmente sem cessar em detrimento desta busca.
Independentemente
do que cremos isso não nos dar o direito de condenar os fatos históricos. E
muito menos criar aversão ou preconceito. O que é coerente saber é que no
processo do amadurecimento da aprendizagem não é permitido barreiras e muito
menos intolerância.
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