terça-feira, 1 de abril de 2014

Felicidade: Uma busca filosófica


Alguém se arrisca a dizer qual é a relação entre felicidade e filosofia? A priori essa seria um questionamento para tentar entender a função da filosofia nesse estado de vida do ser humano. Pois bem, a relação é histórica, a reflexão em torno da felicidade vem desde o nascimento da filosofia (séc. V a.C.).
No início, a principal atividade filosófica na Antiguidade era buscar responder um método que mostrasse como ser feliz. Com isso, o filósofo se colocava a disposição de indicar uma prática que levasse o homem ao caminho da felicidade.
Antes de prosseguir é bom saber que a palavra felicidade vem do latim felicitas, que, por sua vez, deriva do latim antigo felix, que significa “fértil, frutuoso, fecundo”. Felicidade é, portanto, um estado de fecundidade que gera vida e vitaliza nossa existência.
Vejamos agora, a reflexão de alguns filósofos que debruçaram sobre este tema. 
Platão
Na compreensão de Platão (427- 347 a.C.), o mundo material (sensível) é ilusório. Nele tudo é instável e por meio dele não pode haver felicidade. Para ele, o caminho da felicidade é o do abandono das ilusões dos sentidos, buscando o mundo das ideias (inteligível), até alcançar o conhecimento do bem.
Felicidade para Platão seria a harmonia entre corpo e alma. Quer dizer que, o ser humano é essencialmente alma, que é imortal e existe previamente ao corpo. A união da alma com o corpo é acidental, pois o lugar próprio da alma não é o mundo sensível, e sim o mundo inteligível.
A dialética platônica explica que, o corpo é ocasião de corrupção e decadência moral, caso a alma superior não saiba controlar as paixões e os desejos. Com isso, todo esforço humano consiste no domínio da alma superior sobre a inferior. 
Resumidamente, para Platão a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento progressivo até se atingir a ideia do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte fórmula: conhecimento = bondade = felicidade.
Aristóteles
         É na virtude que o ser humano encontra a sua felicidade, segundo Aristóteles (384-322 a.C.). A palavra virtude é entendida aqui como aquela propriedade de um ser que lhe é mais característica e essencial, cuja aplicação conduz à excelência ou perfeição desse ser.
         Para este filósofo grego, o ser humano dispõe da faculdade de pensar e é isso que o distingui dos outros seres. Essa seria, portanto, sua virtude essencial. Dessa forma, o ser humano só alcançará a felicidade se atuar conforme sua virtude, a razão.
         Portanto, não basta ter uma virtude (a racionalidade). É preciso praticá-la. O ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência.
         Aristóteles dizia que, embora o exercício contínuo de uma vida teórica seja essencial para uma pessoa alcançar a vida feliz, isso não basta. Em suma, a felicidade seria uma vida dedicada à contemplação teórica, aliada à prática das outras virtudes humanas e sustentada pelo bem-estar material e social.
Epicuro
Epicuro
Na concepção de Epicuro (341-271 a.C.) o prazer é o caminho da felicidade. Nesse sentido, a felicidade é o prazer resultante da satisfação dos desejos. Mas o que o filósofo quer dizer com isso é que a felicidade é fundamentalmente prazer, pois para ele tudo no mundo é matéria e, no ser humano, sensação, inclusive a felicidade. Assim, ser feliz é sentir prazer.
De acordo com esta teoria epicurista, o prazer é a ausência da dor. Nisso, ele apresenta algumas estratégias a fim de serem adotadas: Eliminação de certas crenças, eliminação ou moderação dos desejos, prudência racional e ataraxia.
1.     Eliminação de certas crenças: são as preocupações religiosas que provocam a angustia e infelicidade. Epicuro se refere ao temor que nos impõem certas crenças e religião. O medo da punição dos deuses era constante na vida dos gregos. Tinham pavor de que forças divinas interferissem em suas vidas como castigo. Todo este sofrimento poderia ser evitado, se as pessoas acreditassem que o universo inteiro é constituído de matéria, inclusive a alma humana. Mediante essa compreensão materialista do universo e do ser humano, o filósofo sustentava que as pessoas também se livrariam de outro grande pavor: o medo da morte.
2.     Eliminação ou moderação dos desejos: Epicuro recomendava que as pessoas eliminassem todos os desejos desnecessários e se permitissem apenas os naturais e necessários, e mesmo assim com moderação. Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um simples copo de água.

3.     Prudência racional e ataraxia: para não seguir o caminho da infelicidade, é preciso escolher os prazeres de maneira racional. Essa escolha conduziria o individuo, segundo Epicuro, à autarquia, isto é, ao governo da própria vida, a não dependência de elementos externos. Pela autarquia, ascenderíamos à ataraxia – palavra de origem grega que designa o estado de imperturbabilidade da alma caracterizada pela indiferença total ao que ocorre no mundo. Esse seria o objetivo último, a felicidade suprema dos epicuristas.  

Um comentário: