Alguém
se arrisca a dizer qual é a relação entre felicidade e filosofia? A priori essa
seria um questionamento para tentar entender a função da filosofia nesse estado
de vida do ser humano. Pois bem, a relação é histórica, a reflexão em torno da
felicidade vem desde o nascimento da filosofia (séc. V a.C.).
No
início, a principal atividade filosófica na Antiguidade era buscar responder um
método que mostrasse como ser feliz. Com isso, o filósofo se colocava a
disposição de indicar uma prática que levasse o homem ao caminho da felicidade.
Antes
de prosseguir é bom saber que a palavra felicidade
vem do latim felicitas, que, por sua
vez, deriva do latim antigo felix,
que significa “fértil, frutuoso, fecundo”.
Felicidade é, portanto, um estado de fecundidade que gera vida e vitaliza nossa
existência.
Vejamos
agora, a reflexão de alguns filósofos que debruçaram sobre este tema.
Platão
Na
compreensão de Platão (427- 347 a.C.), o mundo
material (sensível) é ilusório. Nele tudo é instável e por meio dele não
pode haver felicidade. Para ele, o caminho da felicidade é o do abandono das
ilusões dos sentidos, buscando o mundo
das ideias (inteligível), até alcançar o conhecimento do bem.
Felicidade
para Platão seria a harmonia entre corpo e alma. Quer dizer que, o ser humano é
essencialmente alma, que é imortal e existe previamente ao corpo. A união da
alma com o corpo é acidental, pois o lugar próprio da alma não é o mundo
sensível, e sim o mundo inteligível.
A
dialética platônica explica que, o corpo é ocasião de corrupção e decadência
moral, caso a alma superior não saiba controlar as paixões e os desejos. Com
isso, todo esforço humano consiste no domínio da alma superior sobre a
inferior.
Resumidamente,
para Platão a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a um
conhecimento progressivo até se atingir a ideia do bem, o que poderia ser
sintetizado na seguinte fórmula: conhecimento
= bondade = felicidade.
Aristóteles
É na virtude que o ser humano encontra a sua felicidade, segundo
Aristóteles (384-322 a.C.). A palavra virtude é entendida aqui como aquela
propriedade de um ser que lhe é mais característica e essencial, cuja aplicação
conduz à excelência ou perfeição desse ser.
Para este filósofo grego, o ser humano
dispõe da faculdade de pensar e é isso que o distingui dos outros seres. Essa
seria, portanto, sua virtude essencial. Dessa forma, o ser humano só alcançará
a felicidade se atuar conforme sua virtude, a razão.
Portanto, não basta ter uma virtude (a
racionalidade). É preciso praticá-la. O ser humano precisa esforçar-se para
realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência.
Aristóteles dizia que, embora o
exercício contínuo de uma vida teórica seja essencial para uma pessoa alcançar
a vida feliz, isso não basta. Em suma, a felicidade seria uma vida dedicada à
contemplação teórica, aliada à prática das outras virtudes humanas e sustentada
pelo bem-estar material e social.
Epicuro
Epicuro |
Na
concepção de Epicuro (341-271 a.C.) o prazer
é o caminho da felicidade. Nesse sentido, a felicidade é o prazer resultante da
satisfação dos desejos. Mas o que o filósofo quer dizer com isso é que a
felicidade é fundamentalmente prazer, pois para ele tudo no mundo é matéria e,
no ser humano, sensação, inclusive a felicidade. Assim, ser feliz é sentir
prazer.
De
acordo com esta teoria epicurista, o prazer é a ausência da dor. Nisso, ele apresenta algumas estratégias a fim de
serem adotadas: Eliminação de certas
crenças, eliminação ou moderação dos desejos, prudência racional e ataraxia.
1. Eliminação de certas crenças:
são as preocupações religiosas que provocam a angustia e infelicidade. Epicuro
se refere ao temor que nos impõem certas crenças e religião. O medo da punição
dos deuses era constante na vida dos gregos. Tinham pavor de que forças divinas
interferissem em suas vidas como castigo. Todo este sofrimento poderia ser
evitado, se as pessoas acreditassem que o universo inteiro é constituído de
matéria, inclusive a alma humana. Mediante essa compreensão materialista do
universo e do ser humano, o filósofo sustentava que as pessoas também se
livrariam de outro grande pavor: o medo
da morte.
2. Eliminação ou moderação dos
desejos: Epicuro recomendava que as pessoas eliminassem
todos os desejos desnecessários e se permitissem apenas os naturais e
necessários, e mesmo assim com moderação. Contentar-se com pouco seria o
segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção,
e um grande prazer pode advir de um simples copo de água.
3. Prudência racional e ataraxia:
para não seguir o caminho da infelicidade, é preciso escolher os prazeres de
maneira racional. Essa escolha conduziria o individuo, segundo Epicuro, à
autarquia, isto é, ao governo da própria vida, a não dependência de elementos
externos. Pela autarquia, ascenderíamos à ataraxia
– palavra de origem grega que designa o estado de imperturbabilidade da alma
caracterizada pela indiferença total ao que ocorre no mundo. Esse seria o
objetivo último, a felicidade suprema dos epicuristas.
bom texto...muito esclarecedor
ResponderExcluir