quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Tetrapharmakon

As escolas filosóficas antigas vão divergir muito pouco em relação a busca da felicidade. Um dos filósofos que articulava virtude e felicidade, que definiu a filosofia como “medicina da alma”, ou seja, uma terapia, trazendo a eudaimonia (felicidade) e aplicando o tetrapharmakon foi Epicuro (341-270 a.C.).
O tetrapharmakon (quatro remédios para a alma) defendido pelos epicuristas era quatro frases que traziam uma perspectiva cosmológica, metafisica e ética. De modo que, tomando conhecimento deste remédio, a sua ansiedade desapareceria, como compreensão da bula por meio  desse medicamento.
As quatro frases eram: 1. Os deuses não tem de ser temidos; 2. A morte não deveria causar apreensão; 3. O bem é facilmente obtido; 4. O terrível facilmente chega ao fim. Estas frases (tetrapharmakon) representavam a tentativa que Epicuro estabeleceu como medicina da alma para conduzir a eudaimonia (felicidade). Cada uma dessas frases são investigações filosóficas. Contudo, só serão importantes se elas possibilitarem a prescrição do tetrapharmakon. Lembrando que não se trata de conselhos, mais de uma atitude filosófica que neutraliza a ansiedade, conduzindo cada vez mais a felicidade:
1.     Os desses não tem de ser temidos: Epicuro não desacredita dos deuses ele segue o senso comum, afirmando a existência deles na carta que escreveu para Meneceu. Os deuses são imortais, gloriosos, não podem viver como os humanos que são mortais e perecíveis. Eles não têm a intensão de prejudicar os humanos, o seu plano de existência é superior. Com isso, tem outras preocupações e afazeres.
2.     A morte não deveria causar apreensão: Assim como todos os gregos que afirmam a materialidade das coisas, o corpo é matéria, ou seja, perecível. O importante é a conservação da alma (pneuma). Para Epicuro o prazer é o sumo bem, porque o homem é sensoriais. Isso não quer dizer que devesse viver de orgias, mais também não negar a existência corporal e sensível do ser humano. A alma também é corpo.
3.     O bem é facilmente obtido: O bem é natural e inerente ao homem, portanto, fácil de adquiri-lo. O que se deve fazer é preserva-lo.
4.     O terrível facilmente chega ao fim: O mal nem sempre dura. Epicuro afirma que tudo é momentâneo, há uma durabilidade das coisas, inclusive o mal. A existência do mal e do bem dependem justamente desse intercalo, se assim não fosse, não saberia a existência nem de um nem de outro. Com isso, ambos são limitados. O mal é uma condição passageira, do mesmo modo o bem.
Tudo isso está sustentado na perspectiva atomismo de Demócrito (460-370 a.C.). Para Epicuro o mundo é um conjunto de átomos, ou seja, partículas indivisíveis muito pequenas, impossíveis de serem vistas. E que estão em continuo movimento.
Demócrito de Abdera
No entanto, esta perspectiva atomista e sensualista encontra sua principal dificuldade no determinismo. Se os átomos estão em movimento por eles próprios e nada os guiam, então como compactuar com esta situação determinista, ou seja, com a liberdade humana? O homem tem a impressão de escolher muitas coisas e mudar o curso delas.

Nesse sentido, Epicuro dar um passo muito importante e ate contemporâneo, quando faz uma separação do mundo macro e do mundo micro. Ele afirma que o mundo micro tem as suas regras e suas leis mais no âmbito daquilo que aparece e que é o mundo macro. Entretanto, há possibilidade do contorno dessas leis. Ele não chega a explicar como estas duas situações se relacionam, mais o fato dele escapar do determinismo do mundo atômico, mostra que no mundo macro por meio da causalidade ganha um rumo que permite o homem tomar decisões próprias, optando e tendo vontade.  

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