quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Escolástica: o aristotelismo de Tomás de Aquino

No segundo período medieval, conhecido como Baixa Idade Média, ocorreram mudanças fundamentais no campo da cultura já a partir do século XI, sobretudo em razão do renascimento urbano. Ameaças de ruptura da unidade da Igreja e heresias anunciavam o novo tempo de contestação e debates em que a razão buscava sua autonomia.
Foi assim, no ambiente cultural dessas escolas e das primeiras universidades do século XI, que surgiu uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (palavra derivada de escola).

Escolástica

         No período escolástico, a busca de harmonização entre fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Nesse contexto, a escolástica pode ser dividida em três fases:
·       Primeira fase (do século XI ao fim do século XII) – confiança na perfeita harmonia entre fé e razão;
·       Segunda fase (do século XIII ao principio do século XIV) – elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de Tomás de Aquino. Nessa fase, considera-se que a harmonização entre fé e razão pode ser parcialmente obtida;
·       Terceira fase (do século XIV até o século XVI) – decadência da escolástica, marcada por disputas que realçam as diferenças entre fé e razão.
Além de apresentar o traço fundamental da filosofia medieval, que é a referencia às questões teológicas, a escolástica promoveu significativos avanços no estudo da lógica.
Um problema filosófico que gerou muitas disputas foi à discussão sobre a existência ou não das ideias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. Tal discussão ficou conhecida como a questão dos universais, ou seja, da relação entre as coisas e seus conceitos. Na questão dos universais surgiram duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo.
·       Realismo: Os adeptos do realismo sustentavam a tese de que os universais existiam de fato, ou seja, as ideias universais existiam por si mesmas. Assim, por exemplo, a bondade e a beleza seriam modelos ou moldes a partir doa quais se criariam as coisas boas e as coisas belas. Outro exemplo, o substantivo brancura teria uma perfeição maior do que o adjetivo branco, que se refere a um ente singular. Na mesma linha de raciocínio de Platão, o universal brancura seria mais perfeito do que qualquer coisa branca existente.
·       Nominalismo: os defensores do nominalismo sustentavam a tese de que os termos universais, tais como beleza e bondade, não existiriam em si mesmos, pois seriam somente palavras, sem existência real. Para os nominalistas, o que há são apenas os seres singulares, e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.

Santo Tomás de Aquino

         A filosofia de Tomás de Aquino (1226-1274) – o tomismo – parece ter nascido com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, sua finalidade era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.
Santo tomás de Aquino
         Monge dominicano, Tomás de Aquino, utilizou traduções de Aristóteles feitas diretamente do grego. Sua obra principal, a Suma teológica, é a mais fecunda síntese da escolástica. Embora continuasse a valorizar a fé como instrumento de conhecimento, ele não desconsidera a importância do “conhecimento natural”. Se a razão não pode conhecer, por exemplo, a essência de Deus, pode, no entanto, demonstrar sua existência ou a criação divina do mundo. Uma dessas provas é baseada na Metafisica de Aristóteles, quando o movimento do mundo em ultima instancia é explicado por Deus, causa incausada.
         Além disso, tal como Aristóteles, para explicar o conhecimento, Aquino reconhece a participação dos sentidos e do intelecto: o conhecimento começa pelo contato com as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da fantasia ou imaginação até a apreensão de formas abstratas.
         No entanto, se a recuperação do aristotelismo revelou-se recursos fecundo no tempo de Tomás de Aquino, no Renascimento e na Idade Moderna a escolástica tornou-se entrave para a ciência. Basta lembrar a crítica de Descartes e a luta de Galileu contra o saber intransigente dos escolásticos, fiéis demais à astronomia e à física aristotélicas e, portanto, avessos às novidades da ciência nascente.   

         Proclamado pela Igreja Católica como Doutor Angélico e Doutor por Excelência, Tomás de Aquino é reverenciado nos meios católicos por filósofo e professor de filosofia.  


Fonte: Filosofando – Introdução à filosofia. Ed. Moderna
           Fundamentos de Filosofia. Ed. Saraiva

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