segunda-feira, 12 de maio de 2014

Maniqueísmo

O maniqueísmo era uma heresia cristã fundada no século III d. C. por Manés, que misturava as doutrinas de Zoroastro com o cristianismo. Tinha como pontos centrais em sua doutrina a crença na existência eterna de dois princípios, o bem e o mal, sendo que o bem é o próprio Deus, que domina o reino da Luz, e o mal, as próprias trevas, que é também substância.
Manes (profeta)
Estes dois princípios comunicam a sua substância aos seres, que são bons ou maus conforme a sua origem. Para os maniqueus, houve uma luta entre os reinos da luz e das trevas, no qual os demônios arrebataram partículas de luz. Satanás gerou Adão e comunicou-lhe estas partículas, que seriam as almas dos homens. Deus, para libertar a luz do cativeiro da matéria, criou o Sol, a Lua, os astros e a terra, sendo que esta é de matéria corrompida.
O homem, para eles, é constituído de partes diferentes, cada uma com uma natureza. O corpo é matéria corrompida, oriundo do mal, e o espírito provém de Deus.
Por nove anos Agostinho se dedicou às discussões e à elaboração de pensamento maniqueísta. Graças ao seu interesse e à grande capacidade tornou-se um dos grandes expoentes maniqueus de sua época. Os esquemas maniqueístas pareciam combinar as vantagens da explicação cristã com as vantagens da explicação filosófica. “Os dados de seu (maniqueísta) sistema eram familiares em muitos pontos a um jovem que crescera em um lar cristão. Sustenta-se que Deus é inteira e sumamente bom, incapaz de qualquer mal; reconhece-se o homem como criatura composta, constituída de corpo e alma. A tarefa do homem é procurar o bem; ele só pode ver seu caminho por iluminação divina”.
Santo Agostinho de Hipona
Muitas das proposições de Agostinho nas “Confissões” com relação a Deus e sua natureza parecem vir da experiência maniqueísta. O Saltério Maniquel, texto que expunha as bases das crenças do maniqueísmo, permitiu, com certeza, que Agostinho pensasse filosoficamente certas categorias presentes no cristianismo apenas de maneira superficial. “O maniqueísmo forneceu a Agostinho as primeiras ferramentas experimentais para o auto-exame psicológico”. Após a conversão Agostinho passou a refutar sua experiência maniqueísta, como é evidente nas “Confissões”, onde ele afirma que foi enganado por falsas verdades, nas quais ele inocentemente cria. Apesar disso, as noções adquiridas do contato com o maniqueísmo estão vivas, presentes em toda a sua extensa obra e seriam, por conseqüência, passadas à formulação da fé cristã medieval.
Agostinho retornou a Tagasta, sua cidade natal, em 375 d. C. e ali permaneceu por um ano. De 376 a 383 d. C. voltaria a residir em Cartago, agora como professor. Embora fosse um “dialético” maniqueísta competente e reconhecido, os argumentos do maniqueísmo já não eram suficientes para resolver suas inquietações filosóficas. As explicações através dos mitos cósmicos dos maniqueístas pareciam atrapalhar a descoberta racional de Deus. A última esperança: o grande sábio maniqueu Fausto, que Agostinho há muito desejava conhecer. O encontro entre os dois teve um tom de frustração para Agostinho, pois o “Venturoso” mostrou-se incapaz de responder às perguntas mais profundas sobre a verdade maniqueísta. “O que já me haviam dito foi-me apresentado por ele de uma maneira muito mais suave. Mas como coisas servidas em taças mais ornamentadas saciariam minha sede?”
 O entusiasmo de Agostinho dava sinais de esgotamento. “Agostinho viu-se olhando mais fundo e mais frequentemente em sua alma, e descobrindo sutilezas e complexidades que não eram explicadas pelas cores nítidas primárias da explicação maniquéia”. Sua ida para Roma, em 383 d. C., e a permanência na Itália até 388 d. C. selaria seu afastamento do maniqueísmo.


Fonte: pesquisasparasitas.blogspot.com

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