O
maniqueísmo era uma heresia cristã fundada no século III d. C. por Manés, que
misturava as doutrinas de Zoroastro com o cristianismo. Tinha como pontos
centrais em sua doutrina a crença na existência eterna de dois princípios, o
bem e o mal, sendo que o bem é o próprio Deus, que domina o reino da Luz, e o
mal, as próprias trevas, que é também substância.
Manes (profeta) |
Estes
dois princípios comunicam a sua substância aos seres, que são bons ou maus
conforme a sua origem. Para os maniqueus, houve uma luta entre os reinos da luz
e das trevas, no qual os demônios arrebataram partículas de luz. Satanás gerou
Adão e comunicou-lhe estas partículas, que seriam as almas dos homens. Deus,
para libertar a luz do cativeiro da matéria, criou o Sol, a Lua, os astros e a
terra, sendo que esta é de matéria corrompida.
O
homem, para eles, é constituído de partes diferentes, cada uma com uma
natureza. O corpo é matéria corrompida, oriundo do mal, e o espírito provém de
Deus.
Por
nove anos Agostinho se dedicou às discussões e à elaboração de pensamento
maniqueísta. Graças ao seu interesse e à grande capacidade tornou-se um dos
grandes expoentes maniqueus de sua época. Os esquemas maniqueístas pareciam
combinar as vantagens da explicação cristã com as vantagens da explicação
filosófica. “Os dados de seu (maniqueísta) sistema eram familiares em muitos
pontos a um jovem que crescera em um lar cristão. Sustenta-se que Deus é
inteira e sumamente bom, incapaz de qualquer mal; reconhece-se o homem como
criatura composta, constituída de corpo e alma. A tarefa do homem é procurar o
bem; ele só pode ver seu caminho por iluminação divina”.
Santo Agostinho de Hipona |
Muitas
das proposições de Agostinho nas “Confissões” com relação a Deus e sua natureza
parecem vir da experiência maniqueísta. O Saltério Maniquel, texto que expunha
as bases das crenças do maniqueísmo, permitiu, com certeza, que Agostinho
pensasse filosoficamente certas categorias presentes no cristianismo apenas de
maneira superficial. “O maniqueísmo forneceu a Agostinho as primeiras
ferramentas experimentais para o auto-exame psicológico”. Após a conversão
Agostinho passou a refutar sua experiência maniqueísta, como é evidente nas
“Confissões”, onde ele afirma que foi enganado por falsas verdades, nas quais
ele inocentemente cria. Apesar disso, as noções adquiridas do contato com o
maniqueísmo estão vivas, presentes em toda a sua extensa obra e seriam, por
conseqüência, passadas à formulação da fé cristã medieval.
Agostinho
retornou a Tagasta, sua cidade natal, em 375 d. C. e ali permaneceu por um ano.
De 376 a 383 d. C. voltaria a residir em Cartago, agora como professor. Embora
fosse um “dialético” maniqueísta competente e reconhecido, os argumentos do
maniqueísmo já não eram suficientes para resolver suas inquietações
filosóficas. As explicações através dos mitos cósmicos dos maniqueístas
pareciam atrapalhar a descoberta racional de Deus. A última esperança: o grande
sábio maniqueu Fausto, que Agostinho há muito desejava conhecer. O encontro
entre os dois teve um tom de frustração para Agostinho, pois o “Venturoso”
mostrou-se incapaz de responder às perguntas mais profundas sobre a verdade
maniqueísta. “O que já me haviam dito foi-me apresentado por ele de uma maneira
muito mais suave. Mas como coisas servidas em taças mais ornamentadas saciariam
minha sede?”
O entusiasmo de Agostinho dava sinais de
esgotamento. “Agostinho viu-se olhando mais fundo e mais frequentemente em sua
alma, e descobrindo sutilezas e complexidades que não eram explicadas pelas
cores nítidas primárias da explicação maniquéia”. Sua ida para Roma, em 383 d.
C., e a permanência na Itália até 388 d. C. selaria seu afastamento do
maniqueísmo.
Fonte:
pesquisasparasitas.blogspot.com
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