Filósofo
e teólogo escolástico, Pierre Abélard ou Abailard, em latim Petrus Abelardus,
nasceu em Le Pallet, perto de Nantes, França, por volta do ano 1079, e morreu
no priorado de Saint-Marcel, perto de Châlons-sur-Saône, a 21 de abril de 1142.
Apaixonado
desde cedo pela filosofia, estudou lógica, entre 1094 e 1106, em Loches e
Paris, entrando logo em conflito com o tradicionalismo de seus mestres. Foi
professor em Melun, Corbeil e Paris, ensinando dialética, o que lhe valeu intermináveis
perseguições. Popular com os alunos era odiado pelos demais mestres.
Pedro Abelardo |
A
frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a
verdade" é um dos princípios de Abelardo que direciona tanto seus
pensamentos filosóficos como teológicos. O filósofo parte dessa idéia inicial
para formar e fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida é onde começa o
caminho para a pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um exame
mais aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo
Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações.
A dialética é para Abelardo muito
mais do que um discurso feito de forma habilidosa, ela é o instrumento que
ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do falso. Seguindo regras lógicas
ela vai conseguir determinar se o discurso científico é verdadeiro ou é falso.
Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos estudos e nas argumentações
teológicas para descobrir quais são os argumentos legítimos e quais são os argumentos
não autênticos e através dela fazer prevalecer as verdadeiras doutrinas
cristãs. Não é a razão que vai assimilar a fé, mas a fé que vai apropriar-se da
razão, pois o discurso filosófico não vai tornar sem efeito o conjunto de
sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu entendimento e torná-lo mais
fácil de compreender. A filosofia vai ser a mediadora entre as verdades
reveladas e o pensamento humano. Segundo a filosofia de Abelardo, não é
possível crer nas coisas que não se compreende.
O método lógico de análise utilizado por
Abelardo consistia em estudar a questão filosófica fazendo um exame das partes
que a constituem, percebendo assim os diversos pontos de vista incoerentes e
contrários. É necessário a realização de uma investigação completa que vai
determinar as diferenças entre as argumentações de um tema. A razão vai
prevalecer sobre a opinião de quem tem grande entendimento sobre determinado
assunto. Abelardo não vai contra a utilidade do pensamento de uma autoridade
enquanto não houver meios ou conhecimentos suficientes para se colocar em
prática a razão. A partir do momento que a razão encontrar condições de por si
mesmo encontrar a verdade, a autoridade passa a ser inútil.
Abelardo busca fazer uma
conciliação, um entendimento, um acordo ou ao menos um diálogo ente os
primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias teológicas do
cristianismo. Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, mesmo
estando fora do cristianismo, buscavam também a verdade através da investigação
lógica. Os primeiros filósofos e os filósofos cristãos estão unidos pela razão.
A essência de Deus é impossível de
ser definida, pois ela não pode ser expressa. E não pode ser expressa porque
para isso Deus teria que ser uma substância, e Deus está fora de todas as
coisas que conhecemos e que possamos vir a conhecer. Para tentar explicar a
trindade da pessoa divina Abelardo usa como metáfora a gramática que diferencia
quem fala, para quem se fala e o que se fala. Na unidade divina as três pessoas
podem ser uma só, pois é possível falar de si a si mesmo. A primeira pessoa é
também o fundamento das outras duas, pois se não existir quem fala não existirá
também o que se fala e a quem se fala.
Sobre
as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a ação física, mas
o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a intenção de pecar e
não a ação.
Heloísa
Enquanto
professor em Notre Dame, conheceu a bela e culta Heloísa, sobrinha do cônego
Fulbert. Convidado por Fulbert, torna-se preceptor de Heloísa. Eles se
apaixonam e mantêm uma relação secreta durante os anos de 1117-1119. O
escândalo ocorre quando descobrem que terão um filho. Abelardo seqüestra
Heloísa, enquanto Fulbert exige o casamento, que acaba acontecendo, mas em segredo,
sem que Fulbert saiba.
Abelardo e Heloísa |
Sentindo-se
enganado, o cônego suborna um criado e outros de seus empregados, a fim de
realizar sua vingança. Em certa noite, todos invadem a casa de Abelardo,
castram o jovem e fogem. Humilhado, Abelardo se retira, então, para a Abadia de
Saint Denis, enquanto Heloísa se torna freira no Mosteiro de Argenteuil. Mais
tarde, os agressores foram presos e castigados com a mesma mutilação e com a
perda dos olhos, enquanto o cônego Fulbert teve seus bens confiscados e foi
desterrado de Paris.
Sem
abandonar a filosofia, Abelardo passa a dedicar-se aos estudos teológicos.
Escreve o "Tratado sobre a unidade e a trindade divina" ou
"Teologia do bem supremo", obra que foi condenada pelo Concílio de
Soissons (1121). Obrigado a abandonar a abadia por contestar a identificação
tradicional de Saint Denis com Dionísio, o Areopagita (um suposto mártir do
século 1 d. C.), fundou com seus discípulos o Mosteiro do Paracleto, que mais
tarde doou a Heloísa e suas freiras.
Como
abade de Saint-Gildas-de-Ruys, combateu a corrupção e quase foi assassinado
pelos monges corruptos. Voltando a ensinar na escola de Sainte Geneviéve,
recomeçaram os ataques às suas doutrinas teológicas e viu-se condenado pelo
papa e pelo Concílio de Sens. Pretendia apelar para Roma, mas morreu antes de
se realizar esse desejo.
Fonte:
educação.uol.com.br
Filosofia.com.br
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