segunda-feira, 5 de maio de 2014

A Patrística: o platonismo de Agostinho

No processo de desenvolvimento do cristianismo, tornou-se necessário explicar seus preceitos às autoridades romanas e ao povo em geral. A Igreja Católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Tinham de ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de pregação e conquista espiritual.
Como não poderia deixar de ser, a grande questão discutida pelos intelectuais da Idade Media era a relação entre razão e fé, entre filosofia e teologia. Destacaremos aqui duas tendências filosóficas: a patrística e a escolástica.

Patrística

         A patrística é a filosofia dos chamados Padres da Igreja, que teve inicio no período de decadência do Império Romano, quando o cristianismo se expandia, a partir do século II – portanto, ainda na Antiguidade. No esforço de converter os pagãos, combater as heresias e justificar a fé, aqueles religiosos escreveram obras de apologética, para justificar o pensamento cristão.
         Os Padres recorreram inicialmente à obra de Plotino (204-270), um neoplatônico. Adaptando o pensamento pagão, realizaram uma grande síntese com a doutrina cristã. 
         Na primeira metade do período medieval, conhecida como Alta Idade Média, foi enorme a influência dos Padres da Igreja. Vários pensadores de saber enciclopédico retornaram a cultura antiga, dando continuidade ao trabalho de adequação da herança clássica às verdades teológicas.

Agostinho de Hipona

Agostinho de Hipona
Um dos principais representantes dessa corrente filosófica foi Agostinho (354-430). Agostinho nasceu em Tagaste, província romana situada na África, e faleceu em Hipona, hoje localizada na Argélia. Nessa última cidade viria a ocupar o cargo de bispo da Igreja Católica. 
Em sua formação intelectual, Agostinho, professor de retórica em escolas romanas, despertou para a filosofia com a leitura de Cicero. Posteriormente, deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, em uma incessante luta entre si.
O pensamento agostiniano (de Agostinho) reflete, em grande medida, os principais passos de sua trajetória intelectual anterior à conversão ao catolicismo, quando sofreu a influência do helenismo. Vejamos alguns elementos:
Santo Agostinho e o Maniqueísmo
     ·       Do maniqueísmo o filósofo herdou uma concepção dualista no âmbito moral, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a alma e o corpo. Nesse sentido, dizia que o ser humano tem uma inclinação natural para o mal, para os vícios, para o pecado. Insistia em que já nascemos pecadores (pecado original) e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência “natural”. Considerando o mal como o afastamento de Deus, defendia a necessidade de uma intensa educação religiosa, com a finalidade de reduzir essa distância.
·       Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados dos sentidos, isto é, no conhecimento sensorial, que nos apresenta uma multidão de seres mutáveis, flutuantes e transitórios.
·       Do platonismo Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser buscada intelectualmente no “mundo das ideias”. Por isso defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legitimo para a busca da verdade. Assim, somente o íntimo de nossa alma, iluminada por Deus, poderia atingir a verdade das coisas. Da mesma forma que os olhos do corpo necessitam da luz do sol para enxergar os objetos do mundo sensível, os “olhos da alma” necessitam da luz divina para visualizar as verdades eternas d sabedoria.
Fonte: Filosofando – Introdução à filosofia. Ed. Moderna
           Fundamentos de Filosofia. Ed. Saraiva


Um comentário: