segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ideologia


      Criada pelo filosofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), a palavra ideologia queria dizer originalmente "ciência das ideias", compreendendo o estudo de sua origem e desenvolimento.
      Hoje, o uso desse termo generalizou-se para referir-se ao conjunto das ideias que caracterizam determinado grupo social (politico, econômico, religioso etc.).

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Morte de Sócrates


Quando Sócrates (470-399 a.C.) disse durante a sua morte "Eu sou a minha alma", ele já demonstrava saber que a alma é imortal.
Pelas ruas de Atenas, envolto num áspero manto, com pés descalços e cabeça descoberta, vagava Sócrates distribuindo sabedoria. Era um homem fisicamente feio, mas manso e dócil como um santo. Tinha a profissão de escultor que pouquíssimas vezes exerceu, pois preferia esculpir sábias palavras. Pouco se preocupava com as dificuldades financeiras de sua família. Cuidava dos negócios alheios e esquecia os seus.
Nas infrequentes visitas que fazia à casa de sua mulher Xantipa era recebido com tempestades de palavras ásperas que sabiamente ignorava. Sua maior ambição era ser benfeitor da humanidade. Sua bondade era tão grande quanto sua sabedoria. Desejava ver a justiça social ser exercida em todo o mundo. Em Atenas era odiado e amado. Os políticos detestavam encontrá-lo para não terem de responder perguntas embaraçosas. Para sua esposa Xantipa era um preguiçoso, mas para os jovens atenienses era um deus. Estes adoravam ir ao seu encontro para escutá-lo cheios de admiração.
Para transmitir saber ele costumava instigar o pensamento de seus interlocutores sem jamais responder diretamente suas perguntas. Sócrates sentia especial prazer em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra e também aqueles que diziam ser sábios quando na verdade não passavam de tolos ignorantes. Costumava chamar a si mesmo de "moscardo" (moscão). Tinha a habilidade de estimular as pessoas a pensar. Outro apelido que costumava dar a si mesmo era de "parteira intelectual", porque auxiliava as pessoas a dar nascimento às suas próprias ideias, incentivando o uso do próprio pensamento.
Com muita insistência afirmava que nada sabia. Dizia: "Sou o homem mais sábio de Atenas porque sei que nada sei". Toda a essência do ensinamento de Sócrates pode ser resumido nas seguintes palavras: "Conhece-te a ti mesmo". Ele tentava sempre aprender com todos e neste processo, ensinava a seus mestres.
Costumava dizer que o saber é uma virtude; que os homens cometem crimes porque são ignorantes, não conhecem outra coisa melhor. Diferentemente do filósofo Lao-tze, acreditava que o melhor remédio para o crime é a educação. O objetivo maior de sua vida era ensinar os outros. Infelizmente, dizia ele, nem todos queriam ser aducados.
Um dia, ao chegar ao mercado para seu costumeiro debate filosófico, deparou-se com um aviso colocado na tribuna pública que dizia: "Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade. A pena de seu crime é a morte". Foi preso e julgado pelos políticos cuja hipocrisia costumava denunciar nas praças públicas. Ao ser interpelado pelos juízes, recusou-se a defender-se dizendo que sua obrigação era sempre falar a verdade. Os juízes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual devia ser sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse:
- "Pelo que fiz por voz e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida à expensas públicas".
Foi condenado à morte. Durante trinta dias foi mantido numa cela funerária. Mesmo diante da morte permaneceu calmo, discutindo tranquilamente o significado da vida e o mistério da morte.
Críton, o mais ardente dos seus discípulos, entrou furtivamente na cela e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates!
- Fugir por quê? Perguntou-lhe.
- Ora, não sabes que amanhã te vão matar?
- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
- Sim, amanhã terás de beber a mortal taça de cicuta - Insistiu Críton.
- Vamos, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Críton - respondeu-lhe
- Que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou:
- Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou:
 - Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!...
E assim o mais sábio homem de todos os tempos foi obrigado acabar a vida como um criminoso. Ao beber o veneno, quando já sentia que seus membros esfriavam, despediu-se de todos com as mesmas palavras com que se dirigira aos juízes que o haviam julgado:
- "E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor desses caminhos, só Deus sabe"...
Quando os homens julgam erradamente seu próximo, a história julgará os julgadores.


Fonte: webartigos.com/artigos/a-morte-de-socrates

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Filosofia Moderna (Resumo)

Conhecemos como Filosofia Moderna toda aquela que se desenvolveu durante os séculos XV, XVI, XVII, XVIII e XIX, tendo início no período do Renascimento, porém, por estar sendo tratada em um período tão longo esta filosofia não possui uma uniformidade, ela se encontra dividida em diversos fragmentos de acordo com as escolas dos diferentes períodos dos quais passou. São eles:
Filosofia do Renascimento
Filosofia do século XVII
Filosofia do século XVIII
Filosofia do século XIX
René Descartes
No período moderno a filosofia passou a ter uma divisão melhor de seu foco de estudo. No início ainda era comum vermos questões no que dizia respeito a provar a existência de Deus e a imortalidade da alma, principalmente em textos de René Descartes e George Berkeley, em suas obras as Meditações e o Tratado, de autoria dos dois, respectivamente. Porém, muitos filósofos deste período pareciam estar usando a filosofia para abrir caminhos que pudessem ajudar a fundamentar algum tipo de concepção, de ideia. Era como se tentassem encontrar uma forma de provar aquilo que tentavam passar.
Podemos citar alguns desses filósofos e seus problemas filosóficos como exemplo:
Descartes: Buscava conseguir algum fundamento para explicar uma determinada concepção científica;
John Locke: Buscava preparar o território para que fosse mais fácil a ciência tomar um rumo e agir de maneira mais direta;
Berkeley: Buscava competir com alguma conclusão científica, contrapondo-se aos métodos utilizados pela ciência.
Com o passar dos tempos a filosofia moderna foi sofrendo algumas alterações, deixando de ter seu foco diretamente relacionado ao conhecimento material e a descoberta de todas as verdade, deixando esse papel para que as ciências buscassem descobrir, como também deixando um pouco de lado as questões de tentar justificar as crenças religiosas, tão abordadas no período filosófico anterior.
De acordo com diversas obras que vieram em seguida, principalmente as de Immanuel Kant, a filosofia passava a ser chamada de “virada epistemológica”, onde a preocupação agora era com as condições do conhecimento humano e sua clarificação.

Renascimento
Consideramos de Renascença o período da filosofia que está entre a Idade média e o Iluminismo na Europa, o que inclui o século XV. Segundo alguns estudiosos, podemos estender esse período até o início dos anos de 1350, até os últimos anos do século XVI ou até mesmo o começo do século XVII, depois de Cristo.
John Locke
Chamamos de Renascença porque ela se dá como um renascimento da filosofia, sendo contrário as reformas religiosas, renovando o aprendizado no que diz respeito a civilização clássica. Tendo iniciado na Itália, com o Renascimento Italiano, ela logo tomou proporções mais amplas se espalhando por toda a Europa. Um nome importante para o renascimento inglês, por exemplo, em se tratando da expansão pela Europa, é Shakespeare, que se tornou um dos mais importantes pensadores da época sendo lembrado até os dias de hoje.
Sua importância para o século XVI foi enorme, o que não impediu que ela viesse a sofrer várias divisões. No final de seu período ela passou pelas Reformas e contra reformas, verdadeiros marcos na história da Renascença, conforme citam alguns historiadores, enquanto outros veem apenas como um período extenso, sem tanto significado assim.
Filosofia do século XVII
Considerada como uma forma de ver o princípio da filosofia moderna, se distanciando da forma de pensar do pensamento medieval, é comum vermos essa filosofia sendo chamada de “idade da razão”, já que ela é tida por muitos como uma sucessora da renascença, precedente do iluminismo. É comum vermos esta filosofia como uma prévia da visão iluminista.
Século XVII
Também conhecida como Iluminismo, foi um movimento filosófico que aconteceu na Europa e em alguns países do continente americano, que também inclui em seus diferentes períodos a idade da razão. Podemos fazer uma ligação do termo com a base primária da autoridade, que defendia a razão, um movimento intelectual do iluminismo. Este período se encerra geralmente entre os anos de 1800.
Século XIX
Neste século os filósofos do Iluminismo tinham como referência o trabalho de filósofos como Immanuel Kant e Jean-Jacques Rousseau, o que contribuiu para influenciar uma nova geração de pensadores. Aconteceram nesse período fortes revoluções e turbulências decorrentes das pressões do Igualitarismo, que viriam a provocar mudanças bem visíveis na filosofia.
O contexto filosófico
A partir de então quem passava a ser o fim para a realização das coisas é o homem, ao contrário da filosofia antiga, que via o homem como um meio pelo qual se chegava a alguma coisa, tendo essa análise do ponto de vista político, podemos dizer que ele tem ligação com o individualismo e a valorização da ideia do trabalho. Esse individualismo nada mais era que uma consequência da igualdade entre as pessoas. Sobre o trabalho, ele é visto com uma forma do homem realizar a sua missão na terra, ajudando a construir o mundo, uma visão bem diferente de antigamente, quando se achava que o trabalho era um defeito, e por isso deveria ser direcionado apenas aos escravos.


Fonte: estudopratico.com.br

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Inquisição



A transição para a mentalidade cientifica moderna não foi um processo súbito e sem resistência. Forças ligadas ao passado medieval lutaram duramente contra as transformações que se desenvolviam, punindo, por exemplo, muitos pensadores da época e organizando listas de livros proibidos (o index).
Foi nesse contexto que vários pioneiros da ciência moderna sofreram perseguição da Inquisição, tribunal instituído pela Igreja Católica com o fim de descobrir e julgar os responsáveis pela propagação de heresias, isto é, concepções contrárias aos dogmas dos católicos.
Giordano Bruno
A Inquisição foi criada em 1232 pelo papa Gregório IX. Sua ação estendeu-se por vários reinos cristãos, como Itália, França, Alemanha, Portugal e, especialmente, Espanha. Com o decorrer do tempo, reduziu suas atividades, que somente foram reativadas em meados do século XVI, diante do avanço do protestantismo.
Exemplo marcante dessas perseguições é o julgamento do pensador italiano Giordano Bruno (1548-1600), condenado à morte na fogueira por contestar o pensamento católico, que se apoiava na ideia de que o planeta Terra era o centro imóvel do universo. Essa noção geocêntrica estava fundamentada na astronomia do grego Ptolomeu, na física de Aristóteles e em certas interpretações da Bíblia. 
Contra essa concepção, Giordano Bruno defendeu a teoria heliocêntrica, formulada por Nicolau Copérnico, e afirmou que o universo é um todo infinito, cujo centro não está em parte alguma. As perseguições que sofreu por isso são denunciadas nestas palavras:
Nicolau Copérnico
Por ser eu delineador do campo da natureza, por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram” (Bruno, Sobre o infinito, o universo e os mundos, p.3).
A formulação de Copérnico de que é o Sol, e não a Terra, o centro do universo atingia a concepção medieval cristã de que o ser humano é o ser supremo da criação e que, por isso, seu habitat, a Terra, deveria ter o privilégio de ser o centro em relação aos outros astros. Compreende-se assim o mal-estar causado pela tese copernicana.
Outro aspecto que incomodou as autoridades católicas foi que a natureza e o universo passaram a ser concebidos a partir de um novo paradigma, baseado tanto na observação direta como na representação matemática. Essa mudança de atitude e seus resultados foram entendidos como uma ameaça aos dogmas da Igreja, e poderiam afastar as pessoas da fé cristã.


Fonte: Fundamentos de Filosofia 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Renascimento

O Nascimento de Vênus de Sandro Botticelli
Para entender o que foi às mudanças ocorridas no século XV-XVI, é necessário compreender o que foi o movimento cultural conhecido por Renascimento. Tendo por berço a península Itálica, criaria as bases conceituais e de valores que permitiriam o impulso da razão e da ciência no século XVII.
Inspirado no humanismo – movimento de intelectuais que defendiam o estudo da cultura greco-romana e o retorno a seus ideais de exaltação do ser humano e de seus atributos, como a razão e a liberdade –, o Renascimento propiciou o desenvolvimento de uma mentalidade racionalista. Revendo maior disposição para investigar os problemas do mundo, o indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou mais tempo à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame de mundo.  
A Batalha de Lepanto de Veronese 
Esse conjunto de atitudes contrapunha-se, em grande medida, à mentalidade medieval típica, influenciada pelo pensamento contemplativo e mais submissa às chamadas verdades inquestionáveis da fé. O pensador moderno buscaria não somente conhecer a realidade, descobrir as leis que regem os fenômenos naturais, mas também exercer controle sobre ela. O objetivo era prever para prover, como se diria mais tarde.
Isso não significou, porém, um completo abandono das questões cristãs medievais, o que se torna claro se observamos o fundo religioso que persiste nas obras intelectuais e artísticas desse período. O que ocorreu foi uma renovação no tratamento dessas questões, a partir de uma nova perspectiva humana, de uma “humanização” do divino.
Principais representantes do Renascimento Italiano e suas principais obras:
- Giotto di Bondone (1266-1337) - pintor e arquiteto italiano. Um dos precursores do Renascimento. Obras principais: O Beijo de Judas, A Lamentação e Julgamento Final.

- Fra Angelico (1395 - 1455) - pintor da fase inicial do Renascimento. Pintou iluminuras, altares e afrescos. Obras principais: O coração da virgem, A Anunciação e Adoração dos Magos.

- Michelangelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura.Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina (Juízo Final é a mais conhecida).

- Rafael Sanzio (1483-1520) - pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus).

- Leonardo da Vinci (1452-1519)- pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico, escritor, etc. Obras principais: Mona Lisa, Última Ceia.

- Sandro Botticelli - (1445-1510)- pintor italiano, abordou temas mitológicos e religiosos. Obras principais: O nascimento de Vênus e Primavera.

- Tintoretto - (1518-1594) - importante pintor veneziano da fase final do Renascimento. Obras principais: Paraíso e Última Ceia.

- Veronese - (1528-1588) - nascido em Verona, foi um importante pintor maneirista do Renascimento Italiano. Obras principais: A batalha de Lepanto e São Jerônimo no Deserto.

- Ticiano - (1488-1576) - o mais importante pintor da Escola de Veneza do Renascimento Italiano. Sua grande obra foi O imperador Carlos V em Muhlberg de 1548.

Fonte: Fundamentos de Filosofia
           suapesquisa.com




quinta-feira, 12 de junho de 2014

Idade Moderna: A revalorização do ser humano e da natureza


Iniciemos nosso percurso neste assunto considerando alguns aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais relevantes desse período histórico que se convencionou chamar de Idade Moderna (que vai de meados do século XV ao século XVIII).
Eles nos ajudarão a compreender as mudanças na produção filosófica dessa fase. A partir do século XV, uma série de acontecimentos deflagrou diversos processos que levavam a grandes transformações das sociedades europeias. Entre eles, podemos destacar:
  * A passagem do feudalismo para o capitalismo, que se vinculou ao florescimento do comércio, ao estabelecimento das grandes rotas comerciais, ao predomínio do capital comercial e à emergência da burguesia;
   *  A formação dos Estados nacionais, que fez surgir novas concepções político-econômicas, como a discussão sobre as formas do poder político (ocorreu então a centralização do poder através da monarquia absoluta) e a questão comercial (desenvolveu-se nesse período o mercantilismo e o fortalecimento econômico de alguns Estados, levando ao impulso das grandes navegações marítimas, à descoberta do Novo Mundo e ao estabelecimento das colônias);
    * O movimento da Reforma, que provocou a quebra da unidade religiosa e rompeu com a concepção passiva do ser humano, entregue unicamente aos desígnios divinos, reconhecendo o trabalho humano como fonte da graça divina e origem legítima da riqueza e da felicidade. Também concebeu a razão humana como extensão do poder divino, o que colocava o indivíduo em condições de pensar livremente e responsabilizar-se por seus atos de forma mais autônomas;
     *  O desenvolvimento da ciência natural, que criou novos métodos científicos de investigação, impulsionados pela confiança na razão humana e pelo questionamento de sua submissão aos dogmas do cristianismo. A Igreja Católica, por sua vez, perdia nesse momento parte de seu poder de influência sobre os Estados e de dominação sobre o pensamento;
    *  A invenção da imprensa, que possibilitou a impressão dos textos clássicos gregos e romanos, contribuindo para a formação do humanismo. A divulgação de obras científicas, filosóficas e artísticas, que se tornaram a partir de então acessíveis a um numero maior de pessoas, propiciou maior grau de consciência e liberdade de expressão.
Rei da França Luis XIV
Todos esses acontecimentos modificaram, em muitas regiões, o modo de ser, viver e perceber a realidade de grande número de europeus. Nas artes, nas ciências e na filosofia surgiram novas ideias, concepções e valores.
Um exemplo importante dessas mudanças foi o desabrochar de uma tendência social antropocêntrica (que tem o ser humano como centro), de valorização da obra e compreensão humanas, em lugar da supervalorização da fé cristã e da visão teocêntrica (que tem Deus como centro) da realidade.
Isso levou ao desenvolvimento do racionalismo e de uma filosofia laica (não religiosa) que se mostrarão, de modo geral, otimistas em relação à capacidade da razão de intervir no mundo, organizar a sociedade e aperfeiçoar a vida humana.

Fonte: Fundamentos de filosofia

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Narciso e Eco

Narciso e Eco
Narciso, um jovem de extrema beleza, era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope. No entanto, apesar de atrair e despertar cobiça nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecer seu amor. E foi o seu desprezo pelos outros que o derrotou.
Quando Narciso nasceu, sua mãe consultou o adivinho Tirésias que lhe predisse que Narciso viveria muitos anos desde que nunca conhecesse a si mesmo. Narciso cresceu tornando-se cada vez mais belo e todas as moças e ninfas queriam seu amor, mas ele desprezava a todas.
Narciso
O nome Narciso (tema narkhé = torpor, como em narcótico para nós) já parece indicar o que sua existência significaria: sua beleza entorpece, atordoa, embaraça a todos aqueles por quem ela é vista. Mas também, por sua ascendência, Narciso tem estreita relação com a ideia de água, escoamento e fertilidade, por parte de pai, bem como mansidão, voz macia e leveza (por parte de mãe). Tudo isso influenciaria sua vida. Vejamos por quê.
Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali, a ninfa ECO, que era uma tagarela incorrigível, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem deixar que a notasse. Eco, em virtude de sua tagarelice, foi punida por Hera, esposa de Zeus, para que sempre repetisse os últimos sons que ouvisse (por isso, na física, chamamos de eco a reverberação do som). Por sua vez, Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver.
Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente, deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado (pois sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse), enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava “dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado. A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. Do fundo da lagoa, surgiu a flor que recebeu o nome de Narciso e tem as suas características.
O mito de Narciso e Eco é, até hoje, estudado pelos psicólogos. Alguns explicam que o alter ego, isto é, o outro que nos completa, é buscado fora de si, mas sempre como um retorno a si mesmo.  Essa compreensão mostra o quanto somos egoístas em relação às nossas necessidades, a ponto de ser possível uma relação entre um mito da Antiguidade e as sociedades de consumo do sistema capitalista de produção. Isso porque nesse sistema vivemos em busca de preencher o vazio libidinal que nos atormenta, redirecionando nossas pulsões sexuais para a satisfação na aquisição de bens. Ora, é essa tentativa de satisfação que promove um individualismo exacerbado no mundo contemporâneo, sendo, por isso, apelidado de sociedade narcisista.

O erro de Narciso

Monalisa aderindo ao Selfie
Acho que todos conhecem a história de Narciso, não? Apaixonado por suas selfies, nada mais fez de sua vida senão contemplar-se no Instagram, até nele mergulhar e morrer. Dizem que isso é mito e muito antigo, coisa de grego. Só se for a parte do mergulhar e morrer (se bem que…) porque, no mais, Narciso segue vivo, firme e forte, com o perfil ativo no Facebook e em todo canto da internet. Narciso, hoje, é legião.
Uma de suas características principais, segundo o filósofo Louis Lavelle, que escreveu um livro a respeito, do qual tomei de empréstimo o título acima, é procurar mais aquilo que o agrada do que aquilo que ele é. Cientistas sociais, psicólogos, especialistas de toda ordem, estudam, pesquisam, analisam, teorizam, discutem, há tempo o narcisismo e as redes sociais, terreno fértil para sua propagação, e seus estudos costumam demonstrar que muitos tendem a se sentir mal, tristes, sozinhos, depressivos, invejosos, quando veem os amigos nas redes sociais publicando fotos de festas, viagens, férias, e por aí vai. Claro, naquele momento, é mais agradável ser eles do que eu.
Parece coisa de adolescente, e é – Narciso, aliás, tinha 16 anos. Mas hoje em dia a adolescência esticada é um fato, e os 16 anos de Narciso devem equivaler aos 42 anos na atualidade. É uma epidemia, portanto.
Seria o caso de perguntar em que ponto o amor-próprio se torna doença e volta-se contra si mesmo. Mas acredito que quando se torna mania publicar selfies logo que consumado o ato sexual (#AfterSex), ou sua variante a mostrar como ficou seu cabelo depois (#AfterSexHair), ou para mostrar sua roupa e expressão facial quando se está num funeral (#funeral), enfim, quando chegamos a isso, algo me diz que aquele ponto já foi ultrapassado faz tempo e falar de limites seria até interessante, mas tão produtivo quanto analisar o pênalti perdido por Zico na Copa de 1986.
Na verdade, embora quando se fale de narcisismo logo venha à mente vaidade, seu significado tem mais a ver com entorpecimento, que vem da origem grega do seu nome, narkhé. E é essa, parece-me, a marca registrada do narcisismo do nosso tempo, que já se fez antigo e, pelo visto, perdurará bastante. Estamos entorpecidos, narcotizados moral e espiritualmente, tanto que dá sono só de ler essas palavrinhas, como se a mera menção despertasse um fiscal chato com a única finalidade de estragar prazeres. É proibido proibir, e beijinho no ombro a quem discorda.
No fim, o destino de todo Narciso é não ser amado, nem por si mesmo, e é essa dor que entorpecemos com nossa fabricada espontaneidade e rígido controle de qualidade da imagem que passamos aos outros nas redes sociais. Como somos parecidos por lá, já reparou? Além de Narcisos, também somos Eco, a ninfa condenada pela deusa Hera a somente repetir o que os outros diziam, por ser muito tagarela. Ela se apaixonou por Narciso, mas não podendo expressar seu amor, terminou sendo rejeitada, isolando-se do mundo nas montanhas, onde se transformou em rochedo, mas continuando até hoje a ecoar, a repetir palavras que parecem, mas não são suas. Por que mesmo você entrou na onda das selfies?

Fonte: Francisco Escorsim, advogado e professor, é coordenador do Instituto de Formação e Educação de Curitiba (IFE). Artigo publicado no jornal Gazeta do Povo (Curitiba)


quinta-feira, 22 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ceticismo



Ceticismo é um estado de quem duvida de tudo, de quem é descrente. Um indivíduo cético caracteriza-se por ter predisposição constante para a dúvida, para a incredulidade.
Pirro de Élis
A terceira filosofia helenística importante, depois do estoicismo e do epicurismo, é o ceticismo. Os céticos acreditavam que não podemos conhecer a verdade. Tudo o que temos são ideias que podem ou não ser verdadeiras.
O primeiro filósofo totalmente cético foi Pirro de Élis, que ensinou que não há nada de que possamos estar seguros. Embora parta da idéia de que não podemos conhecer nada, ele se preocupa com o efeito disso sobre o modo que deveríamos agir.
O ceticismo não pretende ser apenas um meio de criticar as ideias de todos os outros filósofos, pelo contrário, pretende ajudar as pessoas a se acostumarem com o fato de que muito do que acontece está além do nosso controle.
Portanto, o cético questiona tudo o que lhe é apresentado como verdade e não admite a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos.
O cético pode usar o pensamento crítico e o método científico (ceticismo científico) como tentativa de comprovar a veracidade de alguma tese. No entanto, o recurso ao método científico não é uma necessidade imperiosa para o cético, podendo muitas vezes preferir a evidência empírica para atestar a validade das suas ideias.
O ceticismo sustenta a impossibilidade de chegar a um juízo universal e indiscutível, dada a universal incerteza que envolve a natureza do mundo e do homem. Assim, nenhuma proposição pode ser afirmada sem que também seja possível encontrar provas da proposição contrária. Daí decorre que a única atitude correta a ser assumida pelo filósofo é não ter opiniões, assumindo a suspensão de qualquer discurso afirmativo (epoché).
A epoché cética é a necessária suspensão do juízo que caracteriza sua posição: nem aceitar, nem rejeitar; nem afirmar, nem negar. Ela nasce da consideração de que sempre é possível demonstrar o contrário de cada afirmação e que, portanto, uma proposição nunca pode dizer-se verdadeira em absoluto. Todo saber reduz-se a um opinável ponto de vista.

Fonte: significados.com.br/ceticismo

           giulianofilosofo.blogspot.com.br

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Pedro Abelardo (1079-1142)

Filósofo e teólogo escolástico, Pierre Abélard ou Abailard, em latim Petrus Abelardus, nasceu em Le Pallet, perto de Nantes, França, por volta do ano 1079, e morreu no priorado de Saint-Marcel, perto de Châlons-sur-Saône, a 21 de abril de 1142.
Apaixonado desde cedo pela filosofia, estudou lógica, entre 1094 e 1106, em Loches e Paris, entrando logo em conflito com o tradicionalismo de seus mestres. Foi professor em Melun, Corbeil e Paris, ensinando dialética, o que lhe valeu intermináveis perseguições. Popular com os alunos era odiado pelos demais mestres.
Pedro Abelardo
A frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a verdade" é um dos princípios de Abelardo que direciona tanto seus pensamentos filosóficos como teológicos. O filósofo parte dessa idéia inicial para formar e fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida é onde começa o caminho para a pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um exame mais aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações.
            A dialética é para Abelardo muito mais do que um discurso feito de forma habilidosa, ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do falso. Seguindo regras lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico é verdadeiro ou é falso. Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos estudos e nas argumentações teológicas para descobrir quais são os argumentos legítimos e quais são os argumentos não autênticos e através dela fazer prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs. Não é a razão que vai assimilar a fé, mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso filosófico não vai tornar sem efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu entendimento e torná-lo mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a mediadora entre as verdades reveladas e o pensamento humano. Segundo a filosofia de Abelardo, não é possível crer nas coisas que não se compreende.
            O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a questão filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo assim os diversos pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a realização de uma investigação completa que vai determinar as diferenças entre as argumentações de um tema. A razão vai prevalecer sobre a opinião de quem tem grande entendimento sobre determinado assunto. Abelardo não vai contra a utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver meios ou conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do momento que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade, a autoridade passa a ser inútil.
            Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou ao menos um diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias teológicas do cristianismo. Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, mesmo estando fora do cristianismo, buscavam também a verdade através da investigação lógica. Os primeiros filósofos e os filósofos cristãos estão unidos pela razão.
            A essência de Deus é impossível de ser definida, pois ela não pode ser expressa. E não pode ser expressa porque para isso Deus teria que ser uma substância, e Deus está fora de todas as coisas que conhecemos e que possamos vir a conhecer. Para tentar explicar a trindade da pessoa divina Abelardo usa como metáfora a gramática que diferencia quem fala, para quem se fala e o que se fala. Na unidade divina as três pessoas podem ser uma só, pois é possível falar de si a si mesmo. A primeira pessoa é também o fundamento das outras duas, pois se não existir quem fala não existirá também o que se fala e a quem se fala.
Sobre as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a ação física, mas o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a intenção de pecar e não a ação.

Heloísa

Enquanto professor em Notre Dame, conheceu a bela e culta Heloísa, sobrinha do cônego Fulbert. Convidado por Fulbert, torna-se preceptor de Heloísa. Eles se apaixonam e mantêm uma relação secreta durante os anos de 1117-1119. O escândalo ocorre quando descobrem que terão um filho. Abelardo seqüestra Heloísa, enquanto Fulbert exige o casamento, que acaba acontecendo, mas em segredo, sem que Fulbert saiba.
Abelardo e Heloísa
Sentindo-se enganado, o cônego suborna um criado e outros de seus empregados, a fim de realizar sua vingança. Em certa noite, todos invadem a casa de Abelardo, castram o jovem e fogem. Humilhado, Abelardo se retira, então, para a Abadia de Saint Denis, enquanto Heloísa se torna freira no Mosteiro de Argenteuil. Mais tarde, os agressores foram presos e castigados com a mesma mutilação e com a perda dos olhos, enquanto o cônego Fulbert teve seus bens confiscados e foi desterrado de Paris.
Sem abandonar a filosofia, Abelardo passa a dedicar-se aos estudos teológicos. Escreve o "Tratado sobre a unidade e a trindade divina" ou "Teologia do bem supremo", obra que foi condenada pelo Concílio de Soissons (1121). Obrigado a abandonar a abadia por contestar a identificação tradicional de Saint Denis com Dionísio, o Areopagita (um suposto mártir do século 1 d. C.), fundou com seus discípulos o Mosteiro do Paracleto, que mais tarde doou a Heloísa e suas freiras.
Como abade de Saint-Gildas-de-Ruys, combateu a corrupção e quase foi assassinado pelos monges corruptos. Voltando a ensinar na escola de Sainte Geneviéve, recomeçaram os ataques às suas doutrinas teológicas e viu-se condenado pelo papa e pelo Concílio de Sens. Pretendia apelar para Roma, mas morreu antes de se realizar esse desejo.
Fonte: educação.uol.com.br

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Maniqueísmo

O maniqueísmo era uma heresia cristã fundada no século III d. C. por Manés, que misturava as doutrinas de Zoroastro com o cristianismo. Tinha como pontos centrais em sua doutrina a crença na existência eterna de dois princípios, o bem e o mal, sendo que o bem é o próprio Deus, que domina o reino da Luz, e o mal, as próprias trevas, que é também substância.
Manes (profeta)
Estes dois princípios comunicam a sua substância aos seres, que são bons ou maus conforme a sua origem. Para os maniqueus, houve uma luta entre os reinos da luz e das trevas, no qual os demônios arrebataram partículas de luz. Satanás gerou Adão e comunicou-lhe estas partículas, que seriam as almas dos homens. Deus, para libertar a luz do cativeiro da matéria, criou o Sol, a Lua, os astros e a terra, sendo que esta é de matéria corrompida.
O homem, para eles, é constituído de partes diferentes, cada uma com uma natureza. O corpo é matéria corrompida, oriundo do mal, e o espírito provém de Deus.
Por nove anos Agostinho se dedicou às discussões e à elaboração de pensamento maniqueísta. Graças ao seu interesse e à grande capacidade tornou-se um dos grandes expoentes maniqueus de sua época. Os esquemas maniqueístas pareciam combinar as vantagens da explicação cristã com as vantagens da explicação filosófica. “Os dados de seu (maniqueísta) sistema eram familiares em muitos pontos a um jovem que crescera em um lar cristão. Sustenta-se que Deus é inteira e sumamente bom, incapaz de qualquer mal; reconhece-se o homem como criatura composta, constituída de corpo e alma. A tarefa do homem é procurar o bem; ele só pode ver seu caminho por iluminação divina”.
Santo Agostinho de Hipona
Muitas das proposições de Agostinho nas “Confissões” com relação a Deus e sua natureza parecem vir da experiência maniqueísta. O Saltério Maniquel, texto que expunha as bases das crenças do maniqueísmo, permitiu, com certeza, que Agostinho pensasse filosoficamente certas categorias presentes no cristianismo apenas de maneira superficial. “O maniqueísmo forneceu a Agostinho as primeiras ferramentas experimentais para o auto-exame psicológico”. Após a conversão Agostinho passou a refutar sua experiência maniqueísta, como é evidente nas “Confissões”, onde ele afirma que foi enganado por falsas verdades, nas quais ele inocentemente cria. Apesar disso, as noções adquiridas do contato com o maniqueísmo estão vivas, presentes em toda a sua extensa obra e seriam, por conseqüência, passadas à formulação da fé cristã medieval.
Agostinho retornou a Tagasta, sua cidade natal, em 375 d. C. e ali permaneceu por um ano. De 376 a 383 d. C. voltaria a residir em Cartago, agora como professor. Embora fosse um “dialético” maniqueísta competente e reconhecido, os argumentos do maniqueísmo já não eram suficientes para resolver suas inquietações filosóficas. As explicações através dos mitos cósmicos dos maniqueístas pareciam atrapalhar a descoberta racional de Deus. A última esperança: o grande sábio maniqueu Fausto, que Agostinho há muito desejava conhecer. O encontro entre os dois teve um tom de frustração para Agostinho, pois o “Venturoso” mostrou-se incapaz de responder às perguntas mais profundas sobre a verdade maniqueísta. “O que já me haviam dito foi-me apresentado por ele de uma maneira muito mais suave. Mas como coisas servidas em taças mais ornamentadas saciariam minha sede?”
 O entusiasmo de Agostinho dava sinais de esgotamento. “Agostinho viu-se olhando mais fundo e mais frequentemente em sua alma, e descobrindo sutilezas e complexidades que não eram explicadas pelas cores nítidas primárias da explicação maniquéia”. Sua ida para Roma, em 383 d. C., e a permanência na Itália até 388 d. C. selaria seu afastamento do maniqueísmo.


Fonte: pesquisasparasitas.blogspot.com

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Escolástica: o aristotelismo de Tomás de Aquino

No segundo período medieval, conhecido como Baixa Idade Média, ocorreram mudanças fundamentais no campo da cultura já a partir do século XI, sobretudo em razão do renascimento urbano. Ameaças de ruptura da unidade da Igreja e heresias anunciavam o novo tempo de contestação e debates em que a razão buscava sua autonomia.
Foi assim, no ambiente cultural dessas escolas e das primeiras universidades do século XI, que surgiu uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (palavra derivada de escola).

Escolástica

         No período escolástico, a busca de harmonização entre fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Nesse contexto, a escolástica pode ser dividida em três fases:
·       Primeira fase (do século XI ao fim do século XII) – confiança na perfeita harmonia entre fé e razão;
·       Segunda fase (do século XIII ao principio do século XIV) – elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de Tomás de Aquino. Nessa fase, considera-se que a harmonização entre fé e razão pode ser parcialmente obtida;
·       Terceira fase (do século XIV até o século XVI) – decadência da escolástica, marcada por disputas que realçam as diferenças entre fé e razão.
Além de apresentar o traço fundamental da filosofia medieval, que é a referencia às questões teológicas, a escolástica promoveu significativos avanços no estudo da lógica.
Um problema filosófico que gerou muitas disputas foi à discussão sobre a existência ou não das ideias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. Tal discussão ficou conhecida como a questão dos universais, ou seja, da relação entre as coisas e seus conceitos. Na questão dos universais surgiram duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo.
·       Realismo: Os adeptos do realismo sustentavam a tese de que os universais existiam de fato, ou seja, as ideias universais existiam por si mesmas. Assim, por exemplo, a bondade e a beleza seriam modelos ou moldes a partir doa quais se criariam as coisas boas e as coisas belas. Outro exemplo, o substantivo brancura teria uma perfeição maior do que o adjetivo branco, que se refere a um ente singular. Na mesma linha de raciocínio de Platão, o universal brancura seria mais perfeito do que qualquer coisa branca existente.
·       Nominalismo: os defensores do nominalismo sustentavam a tese de que os termos universais, tais como beleza e bondade, não existiriam em si mesmos, pois seriam somente palavras, sem existência real. Para os nominalistas, o que há são apenas os seres singulares, e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.

Santo Tomás de Aquino

         A filosofia de Tomás de Aquino (1226-1274) – o tomismo – parece ter nascido com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, sua finalidade era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.
Santo tomás de Aquino
         Monge dominicano, Tomás de Aquino, utilizou traduções de Aristóteles feitas diretamente do grego. Sua obra principal, a Suma teológica, é a mais fecunda síntese da escolástica. Embora continuasse a valorizar a fé como instrumento de conhecimento, ele não desconsidera a importância do “conhecimento natural”. Se a razão não pode conhecer, por exemplo, a essência de Deus, pode, no entanto, demonstrar sua existência ou a criação divina do mundo. Uma dessas provas é baseada na Metafisica de Aristóteles, quando o movimento do mundo em ultima instancia é explicado por Deus, causa incausada.
         Além disso, tal como Aristóteles, para explicar o conhecimento, Aquino reconhece a participação dos sentidos e do intelecto: o conhecimento começa pelo contato com as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da fantasia ou imaginação até a apreensão de formas abstratas.
         No entanto, se a recuperação do aristotelismo revelou-se recursos fecundo no tempo de Tomás de Aquino, no Renascimento e na Idade Moderna a escolástica tornou-se entrave para a ciência. Basta lembrar a crítica de Descartes e a luta de Galileu contra o saber intransigente dos escolásticos, fiéis demais à astronomia e à física aristotélicas e, portanto, avessos às novidades da ciência nascente.   

         Proclamado pela Igreja Católica como Doutor Angélico e Doutor por Excelência, Tomás de Aquino é reverenciado nos meios católicos por filósofo e professor de filosofia.  


Fonte: Filosofando – Introdução à filosofia. Ed. Moderna
           Fundamentos de Filosofia. Ed. Saraiva